Este post não é só sobre um roteiro, é também sobre uma experiência – a de viajar sozinha depois de mais de 10 anos, depois de marido e filhos e pacote completo de sempre viajar acompanhada. Aproveitei uma semana de férias da família (marido trabalhando fora e malinhas com os avós) para viajar para Vila Velha, no Espírito Santo, onde mora uma amiga querida, que abriu sua casa e sua agenda pra me receber e acompanhar pelos passeios na cidade onde ela já mora há 9 anos.
Foi uma viagem bem econômica – passagem com pontos do cartão de crédito, hospedagem free (já que fiquei no apartamento da minha amiga, na Praia da Costa) – com tempo livre e muita conversa, um verdadeiro descanso. E embora já tenha viajado várias vezes a dois depois que os malinhas nasceram, foi a primeira vez que voltei a viajar sem ser de casal, com uma amiga-companheira de várias viagens pré-casamento e pré-filhos. Deu saudade da turma que ficou? Deu sim, mas também foi ótimo! Tirando as mil vezes que fiz marido prometer que cuidaria dos malinhas e não deixaria que eles esquecessem de mim caso o avião caísse rsrs, foi tudo bem tranquilo. Por isso recomendo a minhas amigas mães: se dê um tempo sozinha de vez em quando. Viajar de casal depois dos filhos é maravilhoso e renovador para o casamento, já defendi essa ideia neste post aqui – Viagem sem crianças: permita-se! – e agora defendo também a oportunidade de viajar sozinha ou com amigas, pra relembrar quem a gente era antes de tudo isso.
Vale dizer que talvez esse não seja um roteiro óbvio em Vila Velha, haja vista que 1) quase não rolou praia e 2) minha companheira já conhecia todos os macetes da cidade, por morar lá há tanto tempo. Mas se a intenção é justamente mesclar o óbvio com o diferente, vale ler o post até o fim!
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Roteiro em Vila Velha: Dia 1
Começamos o roteiro saindo de Vila Velha O destino foi o Parque Estadual Paulo Cesar Vinha (antigo Parque de Setiba), a cerca de meia hora de carro pela Rodovia do Sol sentido Guarapari. O parque tem cerca de 1500 hectares e foi criado com o intuito de proteger as restingas, ecossistema muito ameaçado na região por conta da extração de areia. A trilha principal – Trilha da Restinga – tem cerca de 1,5 km até a praia e mais 1 km beirando o mar até a Lagoa de Caraís (conhecida como Lagoa da Coca-Cola, por conta da tonalidade da água).
A trilha é aberta, plana e bem fácil, o que pode cansar é o sol na cabeça na maior parte do trajeto, principalmente no trecho final até a lagoa, onde se vai beirando o mar e a vegetação é mais rasteira. No caminho até o mar passa-se por vários brejos, áreas alagadas que servem como local de alimentação e reprodução de muitos animais.
O parque cobre 11 km de praia, em sua grande extensão bem desertas e sem nenhuma estrutura, e aquele mar gelado com ondas fortes bem típico do Espírito Santo. Uma grande quantidade de animais – principalmente gaviões, gaivotas e caranguejos – vive e se alimenta nas rochas abundantes por ali.
Dá para fazer o quilômetro final de trilha pela areia ou margeando a praia, pois há um caminho por entre os arbustos. É bom ir preparado para enfrentar o sol, pois nesse trecho não há árvores. Até que finalmente se chega no local mais bonito do parque, na minha opinião: a Lagoa do Caraís.
Essa lagoa de água salgada tem águas cristalinas (que mudam de cor conforme a luz do sol e a época do ano) e um pouquinho mais quentes que o mar ali ao lado (inclusive ela se junta a ele na maré alta), e se comunica com as restingas do outro lado, numa vista maravilhosa. Ela é injustamente apelidada de Lagoa da Coca-Cola por parecer escura – na verdade as raízes e folhas da vegetação no entorno da lagoa funcionam como uma espécie de chá, tornando a água meio amarronzada. Como era inverno e dia de semana o local estava vazio, mas no verão fica cheio de banhistas aproveitando a água sem ondas e um pouco menos fria que o mar. Seguindo pelas pedras no sentido oposto ao mar chega-se a um mirante, onde é possível ver as restingas. A paisagem é maravilhosa.
Esse pode ser um passeio para o dia todo para quem quiser aproveitar as praias e a lagoa, mas é importante enfatizar que não há quiosques nem nenhuma estrutura (a não ser banheiros e bebedouro que ficam junto ao estacionamento, na entrada do parque), por isso deve-se ir prevenido, levando água e alimentos.
Na volta paramos num dos quiosques espalhados ao longo da orla da praia de Itaparica, para comer e curtir o final da tarde. Há várias opções ao longo do calçadão. Eu particularmente amo o clima de cidade de praia – muita gente caminhando ou pedalando, crianças brincando na areia, um permanente ar de férias.
Roteiro em Vila Velha: Dia 2
Esse foi o dia de conhecer a parte histórica da cidade e alguns dos seus pontos turísticos mais famosos. Vila Velha é o município mais antigo do Espírito Santo e um dos mais antigos do Brasil (sua fundação data de 1535) e por isso tem uma história rica e um centro histórico bem preservado.
Seguimos de carro até a Prainha, uma pequena enseada que foi o ponto inicial da colonização da cidade e onde hoje se localiza a Escola de Aprendizes de Marinheiros e a Câmara Municipal.
Ali pertinho fica a Igreja do Rosário, cuja data de construção é incerta: uns defendem ter sido erguida na fundação da cidade, em 1535; outros acreditam que só foi construída em 1551. De qualquer modo é muito antiga, e foi reformada várias vezes ao longo dos anos. Na última reforma, em 2015, foram restauradas as pinturas artísticas e o coro em madeira. Há controvérsias também em relação a ser a igreja mais antiga ainda em funcionamento no Brasil, título que disputa com outra igreja em Pernambuco. Ela fica numa praça que preserva aquele ar de interior, com o mar ao fundo.
Praticamente na esquina da praça fica o Museu Casa da Memória, numa casa construída em 1893 e que tem como objetivo contar um pouco da história da cidade e do estado do Espírito Santo. O acervo é bem eclético, com foco grande na vida e genealogia de Vasco Fernandes Coutinho, que foi o primeiro dignatário da capitania do Espírito Santo. Há muitos mapas, documentos e objetos de navegação antigos espalhados pelos vários cômodos. A entrada é gratuita.
No quintal da casa fica um antigo vagão de bonde, utilizado no transporte público até Vitória. Nos divertimos com as propagandas dentro dele, algumas de produtos que ainda existem.
Dali seguimos para aquele que é um dos cartões postais de Vila Velha, e que pode ser avistado praticamente da cidade toda: o Convento da Penha. Encarapitada num rochedo a mais de 150 m de altura praticamente à beira do mar, o visual lá de cima é incrível. A capelinha que deu início ao santuário data de 1558, e depois disso foi ampliada e modificada ao longo dos anos, até chegar ao que é hoje.
Há 3 maneiras de chegar até lá em cima: de carro, por uma estradinha de paralelepípedos; a pé, por essa mesma estrada; e outra opção a pé, a “ladeira da penitência”, ou caminho de pedra, uma espécie de atalho que tem metade da distância mas é beeeem mais íngreme. Nem preciso dizer que escolhemos o caminho da penitência, certo? Para que facilitar, né, minha gente?
Mas a penitência caminhada compensa, pois além de serem apenas 500 m até o alto, a recompensa é um lugar lindo e cheio de história, mais uma visão privilegiada de 360o da cidade. Não há lado que se olhe e não seja bonito, ainda mais num dia claro de sol. Já por dentro impressionam as pinturas a óleo, a capela toda entalhada em madeira e mármore, e aquela quietude típica de lugares meio sagrados. Vale muito a pena tirar uma foto em frente à janela que tem vista para a ponte, que parece uma pintura.
Dali seguimos para almoçar no super famoso restaurante Caranguejo do Assis, uma parada obrigatória para quem visita Vila Velha. Eu já tinha experimentado caranguejo desse jeito, que vem à mesa inteiro e com um martelinho pra ir quebrando a casca, mas confesso que tenho preguiça de comer tão pouco pra tanto trabalho – além de uma certa aflição daqueles olhinhos me olhando e das perninhas cabeludas!
Mas como boa turista que sou, dei conta de um caranguejo de aperitivo antes de almoçar de verdade. Duro foi encarar a cabeça do bicho – fiquei feliz de já ter comido a carninha branca das patas antes de martelar a cabeça e dar de cara com uma meleca de aspecto esquisito (que não comi – que me perdoem os amantes de caranguejo). O chopinho ajudou a descer e o almoço veio farto e delicioso!
Para finalizar o dia com programas obrigatórios, fomos ver o pôr-do-sol no Morro do Moreno.
O morro fica pertinho do centro de Vila Velha, praticamente ao lado do morro onde fica o convento, coberto de mata atlântica e que tem várias atividades disponíveis além das trilhas: pesca, rapel, rampa de voo livre. Seguimos pela trilha que teoricamente é uma estrada para carros mas que está em condições bem ruins – acho que nem veículos 4×4 conseguem encarar as crateras que existem no caminho. São 184 metros de altura e a subida – já aviso – é bem íngreme apesar de curta (pouco mais de 1 km). A vista lá de cima é sensacional!
Só vale o aviso que, para quem tem medo de altura como eu, a pedra do topo é bem inclinada e não há parapeito ou nenhum lugar de apoio – eu colei num negócio que deve ter sido um vaso de planta um dia, mas que só tinha terra, que serviu ao propósito de me deixar um pouco mais segura Recomendo também não ir sozinho, principalmente se for fazer o que nós fizemos – descer o morro após o sol ter se posto – pois o caminho é bem deserto. Uma lanterna também pode ser útil, especialmente no inverno, quando o dia escurece rápido (nós usamos as lanternas do celular).
Roteiro em Vila Velha: Dia 3
Último dia! Reservei alguns dias antes, pelo site, os lugares para o Chocotour – a visita guiada à fabrica de chocolates Garoto. Fundada em 1929 como uma fábrica de balas, a Garoto agora pertence à Nestlé, o que não tira sua tradição na cidade. O charme da visita é poder entrar realmente na área de produção, coisa incomum neste tipo de visita. E é um passeio tão legal que mereceu um post só pra ele: Como é o Chocotour – A visita à fábrica da Garoto em Vila Velha
Como a visita dura quase 3 horas (contando o tempo gasto na lojinha), saímos dali direto para o próximo passeio, onde seria possível almoçar também: o Museu da Vale. Administrado pela Vale (sim, aquela de Brumadinho ) ele fica bem afastado da cidade (cerca de 12 km do centro de Vila Velha), na zona portuária em frente à baía de Vitória, e ocupa uma antiga estação ferroviária. A entrada é gratuita.
O prédio, construído em 1927 e totalmente restaurado, tem a intenção de funcionar como espaço misto: possui um acervo permanente, contando a história da estrada de ferro Vitória a Minas; tem uma maquete ferroviária enorme, da mesma estrada de ferro; abriga exposições e oficinas culturais temporárias; e tem um programa educativo permanente voltado para jovens carentes. Além de um entorno lindíssimo e um restaurante que funciona dentro de um vagão, que foi onde almoçamos.
Na entrada do museu fica uma locomotiva a vapor, uma das últimas adquiridas e utilizadas pela Vale no transporte de minérios, totalmente restaurada. O museu é muito bonito, organizado, todos os funcionários super atenciosos – mas foi difícil pra mim não associar toda aquela beleza à responsabilidade da Vale na tragédia de Brumadinho.
Dali seguimos para o último passeio do dia e dessa viagem: o Farol Santa Luzia. Localizado no finalzinho da Praia da Costa, foi inaugurado por D. Pedro II em 1871 e está em funcionamento até hoje. Pertence à Capitania do Portos mas a visitação é administrada pela prefeitura (entrada gratuita). A vista da baía de Vitória é sensacional! Mais uma vista maravilhosa, pois Vila Velha é fotogênica demais
O acesso até lá é muito fácil, basta seguir as placas indicativas. Além do farol, é possível visitar uma espécie de memorial cartográfico – uma das salas próximas ao portão de entrada teve suas paredes pintadas contando toda a história da cartografia, incluindo uma homenagem a Américo Vespúcio – graças a quem nosso continente se chama América – mais a história do próprio farol. Nesta sala também fica a lente do farol que foi usada até 1900.
Saindo dali, uma abertura no muro branco leva a uma grata surpresa: uma prainha escondida, espremida entre a enseada e o restante da praia. Descendo a rampa chega-se numa espécie de deque, que leva à uma praia pequenininha à esquerda. Naquele horário de fim de tarde, maré alta, a faixa de areia estava bem estreita, mas acredito que muita gente passe o dia ali.
Mais uma linda vista fotogênica como despedida! Como disse à minha amiga, ela é muito privilegiada por morar numa cidade tão bonita. Deixo aqui também meu agradecimento a ela ❤ amizade verdadeira que ultrapassa distância e tempo!
>> Essa viagem teve ainda mais um dia, que usamos para subir a serra capixaba até a Pedra Azul e a Rota do Lagarto – post com os detalhes aqui: O que fazer na Rota do Lagarto
Vila Velha tem uma excelente rede hoteleira, para todos os gostos e bolsos – confira no mapa abaixo as opções oferecidas pelo Booking.
Booking.comLinks dos locais mencionados no texto
- Página de Turismo da Prefeitura de Vila Velha (inclui um mapa turístico bem bacana!)
- Página oficial do Parque Estadual Paulo César Vinha
- Site da Paróquia Nossa Senhora do Rosário
- Site do Convento da Penha
- Página da Casa da Memória
- Site do restaurante Caranguejo do Assis
- Acesso ao agendamento da visita guiada à Garoto
- Site do Museu Vale
- Informações sobre o Farol de Santa Luzia
Leia também:
- Num roteiro estendido pela Grande Vitória, vale conferir esse post do blog Elas Viajando detalhando algumas delícias da culinária capixaba: CULINÁRIA CAPIXABA E MUITO MAIS NA ILHA DAS CAIEIRAS
- Minha história neste post emocionante do blog Partiu Viajar: Mulheres que viajam sozinhas: relatos para te inspirar!
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Respostas de 17
Eu amo Vila Velha! Já fui algumas vezes, mas várias coisas dessa lista eu ainda não conheço. Amo o Convento da Penha e aquela vista!
A vista do convento é mesmo linda demais!
Muito bacana ! Estou pensando em ir para lá em Dezembro. Talvez para o ano novo.
Já quero conhecer tudo isso, a vista desse convento deve ser linda mesmo!
Se tiver oportunidade, vá! O Espírito Santo é tão lindo mas muito pouco divulgado, uma pena.
Gostei muito do seu roteiro por Vila Velha e mais ainda por ler a experiência de primeira viagem sozinha em tanto tempo… deve ser uma sensação muito legal! 😀
Foi mesmo uma experiência ótima, que inclusive pretendo repetir assim que possível 😉
fiquei dois dias em vila velha e nao aproveitei tanto quanto gostaria pois choveu bastante, mas deu pra ver q a cidade eh incrivel demais!
Que pena que choveu! Mas é uma boa desculpa para voltar 😉
Gostei muito do roteiro em Vila Velha e também da experiência da viajante a solo!
Que bom! E sim, foi uma experiência que pretendo repetir 😉
Seu post me deixou morrendo de vontades de voltar ao Espírito Santo, estive aí a alguns anos e adorei. Seu roteiro em Vila Velha ficou dez
Que bom que gostou! Realmente o Espírito Santo é lindo!
Ótimo post Cintia, muito bem explicado e agora estou com muita curiosidade e vontade de ir para Vila Velha!
Na sua opiniao quando seria melhor ir pra lá?
Obrigada, que bom que gostou! Se tiver oportunidade vá sim, vale a pena! Ir nos meses do inverno é uma boa opção, pois quase não chove e as temperaturas são mais amenas, além das praias estarem mais vazias. No verão muita gente de outros estados, principalmente de Minas, procura as praias do ES e as cidades ficam cheias.
Ohhh entendo… caramba muito obrigado por essa dica de ouro! Um grande abraço Cintia!
Olá amigos, eu sou novo no fórum e gostaria de ouvir algumas dicas.
Eu estava vendo as opiniões anteriores e os preços nas agências mencionadas e percebi que elas são um pouco altas para minha economia. Para as quais encontrei as seguintes agências e gostaria de saber se alguém as conhece.
– https://www.incajungle.com
– https://www.choquequiraotrek.com/
– https://www.salkantayperu.com
Espero que você possa me ajudar a realizar meu sonho de viajar para Machu Picchu.
Abracos!
Viagem solo após 10 anos, economia com pontos e estadia na casa de amiga. Renovação, saudades e descanso em Vila Velha, uma experiência única. Recomendo às mães: momentos individuais são essenciais!