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Reflexões sobre isolamento social – como está sendo nossa experiência

Conteúdo atualizado em 16 de abril de 2023

Hoje faz 6 semanas que iniciamos o isolamento social aqui em casa. 6 semanas sem escola para os malinhas, sem visitas à família (nossos pais e toda família próxima moram em outras cidades), sem passear no parque ou na rua, sem viajar nem para longe nem para perto, sem descer na área comum do prédio, sem atividades extras. Os dias da semana, sempre iniciados às 6 da manhã e marcados por uma agenda fixa, agora começam bem mais tarde e se misturam aos finais de semana e feriados – nas palavras das crianças, “os dias são sempre iguais”.

👉Um mês depois, tem outro post contando o que mudou (e o que continua igual): (NOVAS) REFLEXÕES SOBRE NOSSO ISOLAMENTO SOCIAL – 1 MÊS DEPOIS

Saímos pouquíssimas vezes nesse período, uma única vez os 4 juntos, e somente para dar uma volta de carro. Furei o isolamento um dia, quando os malinhas não paravam de brigar e descemos na pracinha aqui do lado, que estava vazia. Certo ou errado, foi uma hora que resultou em um pouco de paz nos dias seguintes.

Esse é um blog de viagens, mas o que fazer quando não se pode sair de casa? 😕 A gente viaja na própria vida e nas próprias contradições…

Eu amo viajar. Gosto do antes – de planejar, de pesquisar preços e pontos turísticos, de olhar sites de pousadas e hotéis, de fuçar outros blogs de viagem, de descobrir lugares diferentes – quase tanto quanto da viagem em si. Gosto até de arrumar as malas (e olha que normalmente organizo bagagem para 3!). Adoro a sensação de estar em um lugar diferente, fora do conforto e da segurança da minha casa.

Mas amo demais a minha casa também e voltar pra ela faz parte do prazer da viagem, por mais estranho que possa parecer. Mais de 7 dias fora de casa e começa a me dar uma nostalgia, por mais legal que esteja o passeio. Sinto falta das coisas triviais – dormir na própria cama, tomar banho no próprio banheiro – o que não impede a comichão para viajar de novo. Comichão essa que não será satisfeita tão cedo 😥

Eu me preocupo com os malinhas e com o tempo que estão “perdendo” de escola, de esportes e de outras atividades que eles fazem rotineiramente. Coloco o termo entre aspas não porque acredite que isso irá impactar o desempenho acadêmico deles ou coisa parecida (afinal, só têm 10 e 7 anos), mas sim porque sei do imenso potencial de aprendizagem que as crianças dessa idade têm, e que está no modo PAUSE há 6 semanas.

Por outro lado, estão em casa, seguros, cheios de vida e de saúde, aprendendo a exercitar a paciência e a tolerância um com o outro. Moram em uma casa espaçosa (um apartamento, mas mesmo assim) e contam um com o outro como companhia. Haverá de fato prejuízo? Só o tempo dirá.

Eu amo os símbolos do nosso país. Acho nossa bandeira e nosso hino lindos de morrer e me emociono todas as vezes que canto o hino nacional. Acredito que resgatar o orgulho de ser brasileiro e reconhecer tudo de bom que temos aqui é fundamental para exercer nossa cidadania em plenitude e apurar nosso olhar crítico. Tento sempre passar isso para os malinhas, pois é o patriotismo em que acredito.

Mas me dói na alma ver esses símbolos estarem sendo utilizados à exaustão (já há uns 2 anos pelo menos, e mais que nunca nos últimos tempos) para levantar bandeira de um pretenso “patriotismo” e servir a manifestações de apoio a temas que repudio com todas as minhas forças, como essa suposta escolha entre emprego e saúde (como se fosse possível fazer essa escolha!) ou defendendo um golpe militar (pelo jeito muita gente faltou nas aulas de História do Brasil 😳). A simples visão de bandeiras e camisetas do Brasil em meio a multidões, a pé ou de carro (como tem sido feito ultimamente) passou a me enojar. É como profanar um símbolo sagrado com o que há de mais corrupto e egoísta do ser humano.

Eu acredito que a vida vai voltar ao normal. As aulas vão voltar, o comércio e a indústria vão voltar a funcionar, as pessoas retornarão ao seu dia-a-dia. Vamos voltar a encontrar os amigos e a família, a comemorar aniversários e datas festivas.

Mas me angustia pensar em como será essa retomada. Quanto tempo vai demorar para sairmos tranquilamente na rua? Ou abraçarmos um amigo com a mesma naturalidade? Ou para não se apavorar se alguém espirrar dentro do elevador? Ainda me assusto com as pessoas de máscara no supermercado (eu incluída)… será que esse vai ser o novo normal?

Eu tenho noção da grandeza dos meus privilégios e da minha sorte. Posso me dar ao luxo de estar em casa com meus filhos sem prejuízo de renda ou saúde. Enquanto puder (e nada por enquanto indica o contrário) vou continuar pagando minha faxineira (e única ajuda doméstica que disponho) sem que ela venha em casa, e não vou deixar de pagar nenhuma das atividades extras que não estamos fazendo. Contribuo com o que posso para ajudar quem, infelizmente, não está na mesma posição que eu.

Mas tira o meu sono pensar naqueles que, do dia para a noite, se viram sem renda. Que se angustiam muito mais com o futuro pois não há como saber como será amanhã ou semana que vem. Fico imensamente triste por quem vivia do turismo, da arte, de atividades cuja essência era congregar as pessoas.

Eu me ressinto de não poder mais planejar as coisas a curto e médio prazo – não sei das férias escolares, não vai haver aquela apresentação das crianças na escola, nem passeio ou visita à família no final de semana. Tenho que explicar para os malinhas a todo momento que não, não sei quando poderemos sair de novo nem quando vão poder ver os amigos, o irmão mais velho, os avós e as tias novamente.

Mas aprendi que fazer uma lista diária, ou até mesmo semanal, de tarefas possíveis (algumas necessárias, como lavar o banheiro) ajuda a manter a sanidade e a sensação de normalidade. Riscar item a item e me dar conta que no final da semana consegui completar todas as tarefas passou a me trazer uma satisfação inesperada.

Eu não sei qual será o efeito que tudo isso terá em nós. Gosto de pensar que a humanidade sairá dessa com mais noção das prioridades da vida, menos consumista e imediatista, mais amorosa e fraterna. Sem tanta gente nas ruas e com menos poluição no ar, também me conforta pensar que a natureza está se regenerando depois de centenas de anos de exploração desenfreada.

Por outro lado, uma espiada no meu celular ou nos noticiários da TV já me desanimam. Sinto as pessoas tão exaltadas, tão extremistas em suas opiniões. Vejo pessoas tirando vantagem de outras nas situações mais absurdas. Fico com a impressão que está aparecendo tanto o melhor quanto o pior dos seres humanos… só não sei para que lado essa balança vai pender no final. E o mais triste de tudo: a vida de quem perdeu entes queridos nunca mais vai ser a mesma, com certeza.

Este é um post desabafo. Vale incluir algumas informações aqui para contextualizar:

👉 Onde moramos (São José dos Campos-SP) foram registradas 3 mortes por Covid-19 até o momento (19/04)

👉 Não conhecemos ninguém próximo que tenha ficado doente, só ouvimos boatos aqui e ali (inclusive que haveria um caso aqui no nosso prédio, o que acabou não se confirmando)

👉 Nosso bairro é um dos que mais concentra casos na cidade (atualmente 11 confirmados, embora estejamos cientes que há um alto nível de subnotificações). Há um mês, as ruas estavam praticamente desertas. Mas de uns 10 dias para cá vemos mais e mais pessoas nas ruas, com crianças ou praticando esportes.

👉 A prefeitura publicou um decreto autorizando abertura gradativa do comércio a partir do dia 27 de abril, mas essa ação está sendo contestada pelo Ministério Público e pelo governo do Estado.

👉 Canais de comunicação de universidades do interior de SP estão alertando para o aumento de número de casos fora da capital nas próximas 3 semanas. Ou seja, esse seria mesmo o pior período para afrouxar o isolamento social.

🔎Para quem quiser fugir dos canais de informação tradicionais sugiro seguir o Átila Iamarino, doutor em microbiologia e que compartilha informações de maneira bem científica e clara em seu perfil do Instagram – @oatila. Desde que vi sua entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura, no dia 30 de março, fiquei fã e passei a segui-lo.

🔎Junto a blogueiros de diversos países, demos nosso depoimento neste post aqui – Coronavírus: Blogueiros Relatam Experiências ao Redor do Mundo – do blog The Tripping Unicorn. As histórias variam um pouco, mas o medo e o assombro das pessoas com essa pandemia parece ser o mesmo em todas as partes do mundo.

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Quem Somos

Somos uma família de 4: eu, Cíntia, engenheira de formação mas que sempre gostei de escrever e viajar; marido, que me acompanha nas viagens desde 2009; e nossos dois malinhas, Letícia e Felipe, atualmente com 14 e 11 anos, que carregamos por todos os lugares desde que ainda estavam na minha barriga.

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Respostas de 15

  1. oi… Eu acho que estamos vivendo um novo cenário e acredito que a maioria de nós está tentando fazer o melhor que pode. Tempos de mudanças, tempos de aprendizados, de descobrir uma nova forma de viver.

    Eu vejo no confinamento uma grande chance de reflexão, de recolhimento. Em vez de buscar ocupar meu tempo, fazer mil atividades, busquei diminuir e gastar mais tempo refletindo. Estou levando mais tempo para ler um livro porque entre um capítulo e outro paro para refletir. Paro para pensar naquilo que estou lendo. Livros variados, de muitas temáticas, de fantasia e policiais inclusive…

    Tenho aproveitado este isolamento para aprofundar minhas reflexões no impacto que eu causo hoje no mundo, qual o impacto que eu quero causar… quero ser leve, quero mudar. Pesquiso então (o que já vinha fazendo há algum tempo) dicas de minimalismo, sustentabilidade… vejo novas receitas vegetarianas. Procuro implementar no meu pequeno mundo.

    Observo as pessoas virtualmente. Observo as pessoas falando que precisamos ter amor no coração. Observo estas mesmas pessoas ofendendo, xingando quem pensa diferente delas. Quem acha que o isolamento social não é o caminho, está sendo taxado de assassino, irresponsável. Quem acha que o isolamento social é o caminho, está sendo xingado de gado, de vagabundo… Isso é amor no coração?! Enquanto olharmos o outro como inimigo, por mais absurdo que possa parecer o seu modo de pensar, não saberemos o que é amor no coração.

    Para superarmos esta pandemia temos que entender que estamos todos conectados, devemos acreditar na ciência, debater com respeito sobre as possíveis alternativas neste cenário que é novo, temos que ter paciência e pensar todos os dias: o que eu posso fazer para ser uma pessoa melhor hoje! bjus

    1. Ah Ana, queria tanto ser uma pessoa evoluída como vc… acredito sim que estamos todos conectados, embora haja pessoas com quem não queria ter conexão nenhuma rsrsrs Mas vc tem muita razão quando diz que o único caminho é acreditar na ciência, debater com respeito as alternativas e ter paciência – inclusive com a gente mesmo, e não se cobrar tanto. Bjs querida!

  2. Adorei as reflexões sobre o isolamento social de vocês. Eu sempre me pergunto como seria de tivesse um filho já que deve ser difícil ter que controlar as emoções não só para você mas para trazer tranquilidade a eles. Somos muito privilegiados de estar em casa e de conseguir pensar sobre nossa situação atual de maneira crítica. Parabéns e fiquem bem, malinhas 🙂

  3. São circunstâncias angustiantes, que merecem reflexão. Também estamos em isolamento há várias semanas. Felizmente, o colégio do meu filho reagiu na hora. Na semana seguinte, ele tinha um plano diário de trabalho. Esperemos por melhores dias

  4. nos estamos isolados desde o fim defevereiro quando voltamos da frança com uma visita curta a italia. ficamos de quarentena a pedido do trabalho do meu marido. quando ele voltou a trabalhar a empresa fechou e mais tarde foi declaro lockdown no UK. e não tem previsao de voltar
    o virus virou o mundo de ponta cabeça

  5. Gostei muito desse teu desafo/reflexão de seus dias de isolamento e do que há por vir nesse experiência. Concordo muito com tuas falas sobre o que estão transformando nossa bandeira nos últimos anos. Também tenho meus privilégios aqui em casa, de ter moradia, comida, um salário para me manter. É tão triste pensar que muitos não estão nessa posição e estão se vendo num beco sem saída. Ainda não consegui imaginar o que será do futuro. Sinto que a natureza fez seu chamado, mas como responderemos? Será uma volta muito difícil, realmente, para nos abraçarmos, para deixarmos de nos preocupar. Espero que saibamos utilizar nossas consciências, éticas e humanidades para construirmos uma realidade leve.

  6. Esta situação está sendo difícil para toda a gente. O isolamento é uma medida que nos limita muito as relações sociais e isso pesa à medida que o tempo passa. Imagino que com miúdos custe mais, mas ao mesmo tempo também dá outras alegrias e o tempo parece voar. Força!

  7. Os dias estão todos iguais mesmo! E quando vc vê já tá na hora de lavar o banheiro de novo – socorro!! rs Eu to em casa faz uns 40 dias (em Campinas) e só saí um dia pra buscar as máscaras que compramos, mas nem saí do carro. Tb acho um absurdo o q fizeram com os símbolos do Brasil nos últimos anos e a decepção com certas pessoas é tããããão grande q não tem mais volta nao…

  8. Texto muito inspirador e emocionante.
    Eu tenho um bebezinho e a quarentena está sendo uma loucura.
    Só espero que nosso novo normal chegue logo e que sejam bons tempos.

    1. Imagino como deve estar sendo solitário esse período com bebê pequeno… cada fase tem seus desafios, não é? Também espero que tudo isso passe e possamos voltar a ver nossa família e amigos.

  9. Que sensata, Cintia. Me identifiquei tanto com várias partes do texto. Fazer listas de tarefas diárias também me ajuda, parece que estou fazendo algo e não só deixando o tempo passar… Espero realmente que após tudo isso o tempo melhore, mas sendo realista, vejo que nem tudo é preto no branco. Só resta esperar e torcer! E, claro, ficar em casa 🙂

    1. Obrigada Amanda! Vindo de vc é um grande elogio, adoro o jeito como vc escreve! E sim, nos restar esperar e torcer, exercitando a paciência e a serenidade…

  10. Gostei de ler suas reflexões! Este isolamento social me levou a pensar em muitas coisas também. Muitas coisas que dávamos importância perderam o sentido. Mas continuo mantendo a esperança por dias melhores

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