O meu blog Entre Mochilas e Malinhas nasceu das perguntas dos amigos e conhecidos sobre as viagens que eu e marido, junto com nossos “malinhas” (dois filhos e um enteado), fazíamos. Em algumas, carregamos todo mundo; de vez em quando, viajamos a dois; na maioria delas, vamos em quatro. Gostamos de dizer que somos uma família “com rodinhas nos pés”. Viajamos muito mais do que podemos, e muito menos do que gostaríamos. E desconfio secretamente que a razão de ser do blog é, na verdade, convencer as pessoas que é uma delícia viajar em família.
Eu e marido não tivemos a oportunidade de viajar durante nossas infâncias, por razões financeiras e até culturais – poucos valorizavam isso há 40 anos, ainda mais quando o dinheiro era contado. Ainda hoje percebo uma certa incredulidade em algumas pessoas quando imaginam o quanto gastamos em viagens – imagino os pensamentos: “que desperdício, poderiam ter um carro melhor com esse dinheiro!”, ou “poderiam investir em imóveis” (!!!), ou até “ela podia se vestir melhor ao invés de torrar dinheiro à toa”.
Quando eu era criança, o orçamento da minha família, do interior de SP, só permitia uma semana de praia no ano e olhe lá. De avião só fui viajar aos 24 anos, com meu próprio salário, e aí peguei gosto e não parei mais. Me convenci facilmente que é o dinheiro mais bem gasto do mundo. Solteira, viajei por vários estados do Brasil, conheci alguns países da América do Sul, EUA, estive na Europa algumas vezes – algumas vezes a trabalho, outras de férias, ou misturando os dois. A cada viagem eu percebia o tanto do mundo que ainda faltava conhecer.
Aos 30 e tantos conheci marido (que adora dizer que só se apaixonou porque eu também amava viajar) e juntamos nossas mochilas. Começava então nossa jornada juntos, marcada sempre por viagens: foi num quarto de hotel que me descobri grávida pela primeira vez; aos 2 meses nossa malinha fez sua primeira viagem, aos 6 meses viajou de avião pela primeira vez, aos 2 anos fez trilha conosco. E nosso caçula foi até “feito” numa viagem! Hoje, meu filho de 5 anos já conhece muito mais lugares do que eu conhecia aos 25.
já em 4 (São Lourenço, MG, 2014) |
Dá trabalho carregar as malinhas todas? Não vou mentir, dá muito mais trabalho que viajar sozinho ou a dois. Mas não é assim com a ma(pa)ternidade em geral? E assim como a ma(pa)ternidade modifica a gente, muda nosso olhar para o outro, nossa forma de se planejar, nossa visão de futuro, nossos desejos, viajar também amplia nossa visão e nos altera internamente.
Hoje posso dizer que tenho um olhar duplamente curioso ao pisar num lugar novo: vejo com meus olhos e com os dos pequenos, que com frequência me apontam o que passou despercebido. Sou bem menos egoísta, quando penso nas minhas crianças e no mundo que vão encontrar quando crescerem, nas pessoas com as quais vão conviver. Deixei de ser dona da verdade e tenho muito mais respeito por outros modos de viver diferentes dos meus. Sinto orgulho por poder dar aos meus filhos oportunidades que não tive e que nada têm a ver com posse de coisas materiais: estamos criando memórias afetivas, e eles criando repertório para lidar com esse mundão louco e lindo que vivemos.
Por isso, quando alguém me pergunta: “dá trabalho?”, ou ainda: “mas de que adianta viajar, se eles não vão se lembrar?”, eu respondo: vale a pena. Dá trabalho, mas dá muito mais prazer. Talvez não se lembrem de detalhes, mas na memória deles vão ficar as risadas, as lágrimas, os abraços, que não teriam acontecido se estivéssemos só em casa. Vai ficar guardado o sentimento de viver intensamente em família, dormir e acordar juntos, ouvir sotaques e línguas diferentes. E mais que tudo: EU vou me lembrar. Eles vão crescer e alçar voo sozinhos um dia, criar outras memórias, fazer outras viagens, com outras pessoas, mas as minhas lembranças com eles pequeninos… ah, essas são ficar pra sempre comigo, não importa pra onde forem depois de grandes.
Aqui em casa acreditamos piamente que o mundo precisa cada vez mais de respeito e tolerância. Viajar, com a mente e o coração abertos, pode ser uma ferramenta de educação importantíssima. Perguntas e conversas inusitadas podem acontecer, criando conexões que nunca surgiriam dentro de casa. Nada substitui a presença e a experiência real, ainda mais para essas crianças nascidas já na era do celular.
Rebato também sempre quem acredita que viajar com crianças significa ir à Disney ou ficar em resort. Me desculpem os apaixonados pelo Mickey e companhia, mas a nossa lista de lugares pra ir é muito mais variada que isso. E me desculpem também os que conseguem bancar hotel bacana em todas as viagens… Qualquer lugar é bom com crianças, respeitando-se os limites delas (e os nossos também!). Museu é lugar de criança. Parque é lugar de criança. Ecoturismo é coisa de criança também. Adaptação é a palavra-chave, como em tudo na vida.
Não sei como serão meus malinhas adultos. Nós pais temos influência limitada, para o bem e para o mal. Não sei se serão pessoas que gostam de viajar, se terão preguiça de sair de casa, se serão mochileiros, se vão preferir hostel ou resort, se viajarão com os próprios filhos ou não. Sei que estamos fazendo a nossa parte, tentando mostrar o mundo pra eles. E não sei eles, mas eu estou aproveitando demais!
Viagens das fotos desse post:
Ilha Grande (RJ) com 3 malinhas
São Paulo – dicas de passeios curtos
Texto originalmente publicado no portal Viagens com Filhos
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Respostas de 2
Parabéns pelo blog, muito bonito e boa viagem
Obrigada! Continue nos acompanhando!