Sou uma leitora que gosta de diferentes estilos, mas confesso que sempre acabo escolhendo romances – adoro uma história bem contada, seja real ou fictícia, e por isso biografias normalmente também me prendem. Mas quando o assunto é não-ficção fico bem ressabiada, e são poucos os livros que me prendem a atenção e valem a recomendação. Normalmente os que me “pegam” são aqueles que me fazem refletir sobre algum assunto ou aspecto da vida, me tocam o coração ou enfocam em determinados momentos históricos.
Novamente explorando a possibilidade de viajar sem sair de casa através da leitura, segue uma lista de livros de não-ficção sobre diferentes assuntos que li e recomendo.
CRER OU NÃO CRER (Pe. Fábio de Melo e Leandro Karnal)
O assunto aqui é fé: são muitas as questões interessantes debatidas em Crer ou Não Crer, escrito em formato de diálogo entre o padre católico-celebridade Fábio de Melo e o professor, historiador, autor de diversos livros, ex-seminarista e ateu assumido, Leandro Karnal. Eu fui criada católica e estudei em colégios religiosos até ir para a universidade, por isso tenho algum conhecimento sobre o cristianismo. Mas há muitos anos não sigo nenhuma religião e tendo para o ateísmo, e fiquei bastante curiosa para ler esse livro: em tempos tão controversos no Brasil, onde religião virou bandeira ideológica e política, como seria essa conversa?
O clima do debate é muito respeitoso e, embora divirjam em vários pontos (como era de se esperar), eles concordam em muitos outros – o que prova que a essência humana transcende qualquer credo. Vale ressaltar alguns pontos que me chamaram muito a atenção, pontos em que os dois concordam e que todos nós deveríamos concordar também: seguir uma religião não é garantia de caráter ou ética; a busca pessoal pelo autodesenvolvimento independe de se ter fé ou não em algo superior; fé e ciência não são antagonistas. Cada capítulo envolve uma dessas questões, e ao final há um glossário de termos e nomes mencionados nas discussões.
A SABEDORIA DA TRANSFORMAÇÃO (Monja Cohen)
Não escondo que comprei A Sabedoria da Transformação na tentativa de me tornar uma pessoa melhor, mais centrada e equilibrada – afinal, quem melhor que uma monja budista para ajudar, certo? Não sei se fez efeito, mas foi no mínimo uma leitura interessante. Nesse livro, a famosa Monja Cohen mistura exemplos reais (inclusive alguns episódios da própria vida) para exemplificar a busca pela paz interior e, consequentemente, pela famigerada felicidade.
Ao contrário do que possa parecer, é uma leitura leve e revigorante e serve para todas as pessoas, independente de religião. Um estímulo para repensar atitudes e, porque não, transformar a própria vida.
LONGE DA ÁRVORE (Andrew Solomon)
De longe esse foi um dos livros mais inquietantes que já li na vida. Baseado nas suas próprias experiências com a dislexia na infância e a homossexualidade na vida adulta, Andrew Solomon fez uma pesquisa extensa sobre a diversidade dentro das famílias para escrever Longe da Árvore. Cada capítulo é dedicado a uma “excepcionalidade”: desde condições inatas, como nanismo, autismo, surdez, esquizofrenia, transgeneridade, até outras circunstanciais, como filhos resultados de estupro e delinquentes. Ele entrevistou centenas de pessoas e foi capaz de criar panoramas imparciais, mostrando o lado A e o lado B de cada situação e o impacto delas dentro das famílias. Como mãe de duas crianças absolutamente comuns, fiquei chocada com algumas dessas situações tão distantes da minha realidade – por outro lado, pude entender muitos dos sentimentos dos pais e mães entrevistados no livro. Há que se levar em conta que a realidade brasileira é bem distinta da americana em termos de suporte, pesquisas e associações familiares em torno de determinadas condições, mas famílias são famílias em qualquer lugar.
Sei que o livro virou filme mas não assisti, então não sei se causa o mesmo impacto que o livro. Recomendo muito para quem quer entender mais sobre diversidade e sobre a condição humana em geral – faz pensar e muito!
GRITO DE GUERRA DA MÃE TIGRE (Amy Chua)
Amy Chua, uma descendente de chineses residente nos EUA decide criar suas filhas à maneira oriental e compartilha sua “metodologia” – em resumo, essa é a história de Grito de Guerra da Mãe-Tigre. O jeito que nós, ocidentais, encaramos a infância e a criação dos filhos é muito diferente dos orientais, por isso várias atitudes dessa mãe acabam nos chocando pela inflexibilidade.
A educação vista como treinamento para a excelência, a falta de diálogo, o estabelecimento de metas… o livro me despertou sentimentos ambíguos e muitas perguntas: nosso desejo como mães/pais é sempre desenvolver ao máximo o potencial dos filhos, mas a que preço? Não queremos também ter um relacionamento de amor e acolhimento com nossos filhos? Será que é possível ter os dois? A conclusão é que é difícil separar a educação da cultura na qual estamos inseridos e que, embora as mães ao redor do mundo pareçam muito diferentes na metodologia, somos iguais no desejo de preparar nossos filhos para o mundo da melhor maneira possível. Uma reflexão válida para todos, sejam mães/pais ou somente filhos.
QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? (Ilan Brenman e Luiz Felipe Pondé)
Mais um livro que debate educação e infância, também escrito no formato de diálogo. Em Quem tem medo do Lobo Mau? o psicólogo e renomado autor de livros infantis Ilan Brenman e o filósofo Luiz Felipe Pondé conversam sobre os impactos do politicamente correto na educação das crianças e nos adultos que se tornarão. Os filtros que têm sido impostos aos contos de fadas, por exemplo, acabam por impedir as crianças de lidarem com sentimentos normais e perfeitamente humanos (embora não bonitos) como medo, raiva, inveja, ciúmes – eles defendem que a simbologia é importantíssima na infância e ajuda na formação de adultos mais seguros e inteligentes emocionalmente.
Não concordo 100% com eles em tudo, mas por isso mesmo é um bom livro, pois nos leva a refletir sobre liberdade de expressão, inteligência emocional e valorização da infância.
CUIDE DOS PAIS ANTES QUE SEJA TARDE (Fabrício Carpinejar)
Nesses tempos tristes em que tantos perderam pais, mães, irmãos, amigos, Cuide dos Pais Antes que Seja Tarde é um livro para repensar as relações e valorizar o hoje com aqueles a quem amamos. Baseado nas suas próprias experiências, o poeta e escritor Fabricio Carpinejar defende que não devemos perder um minuto do afeto e da convivência com a família por orgulho. O tempo passa rápido e as pessoas, em especial nossos pais, não são eternos – por isso é importante abrir espaço na nossa vida para eles. Para ler devagarinho, pensando e ponderando – e derramando algumas lágrimas.
1822 (Laurentino Gomes)
Para refletir sobre as origens do Brasil, 1822 é um livro de História bem diferente daqueles livros didáticos que estudamos no ensino fundamental. Esqueça o “brado retumbante” de D.Pedro I e se atente ao subtítulo: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado.
O historiador Laurentino Gomes detalha as circunstâncias que levaram à independência do Brasil e nos apresenta uma série de novos personagens, fundamentais para aquele momento mas que pouco (ou nunca) ouvimos falar. Ele também nos apresenta um D. Pedro bem diferente – e muito mais humano – do que aquele lendário personagem mulherengo e valente, imortalizado em séries e filmes. Lembrando que a independência moldou muito da nossa identidade como brasileiros, e lendo algumas passagens conseguimos entender melhor muitos dos aspectos culturais que carregamos até hoje (alguns não muito bons, diga-se). Leitura recomendadíssima para quem quer entender melhor os mecanismos que regem o Brasil até hoje.
PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA (Djamila Ribeiro)
Sou muito fã da filósofa e ativista Djamila Ribeiro, e adoro ouvi-la falar – sempre clara e contundente, ela sabe tocar em pontos doloridos mas necessários para que melhoremos como sociedade. Pequeno Manual Antirracista é mesmo pequenininho, dividido em 11 capítulos, aborda diversos temas que nos mostram como o racismo está entranhado na nossa sociedade e permeia comportamentos e políticas públicas. É uma leitura fundamental para quem quer se aprofundar no assunto e repensar as próprias atitudes – no final a gente fica se perguntando: será possível reverter esse sistema de opressão tão antigo quanto o próprio Brasil? Gosto de pensar que sim, e que é preciso ajuda de pessoas como Djamila para nos abrir os olhos.
ENQUANTO EU RESPIRAR (Ana Michelle Soares)
Enquanto eu respirar é um livro que faz repensar a vida e a morte, de uma maneira muito pessoal e realista. A autora Ana Michelle Soares é uma jovem que se vê, aos 32 anos, diante do diagnóstico de um câncer de mama reincidente, e que já havia se espalhado por outros órgãos. Não havia mais possibilidade de cura total, e o foco do seu tratamento passa a ser o controle da doença, de forma a proporcionar a vida mais confortável que ela possa ter até o fim – os chamados cuidados paliativos.
A cada capítulo, ela conta um pouco como lidou com os diferentes tratamentos, as amizades que surgiram da página @paliativas, que ela criou no Instagram para contar sua história, seus sentimentos, sua jornada de autoconhecimento e a firme intenção de aproveitar ao máximo sua vida, dia a dia. Uma história para repensar a finitude da vida, especialmente diante das adversidades.
A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE (Matt Haig)
Diferente dos demais dessa lista, A Biblioteca da Meia-Noite é uma obra de ficção que virou best-seller mundial por conta da pergunta instigante que deixa na cabeça do leitor: o que faríamos de diferente na nossa vida se pudéssemos voltar atrás? Que rumos a vida teria tomado se tivéssemos feito escolhas diferentes? No livro, a protagonista cheia de arrependimentos tenta o suicídio e é nesse momento entre a vida e morte que ela se vê frente às infinitas possibilidades do que sua vida poderia ter sido.
Um pouco deprimente no início, mas o livro engrena e surpreende, conforme acompanhamos a personagem e suas possíveis vidas. Faz pensar nos nossos próprios arrependimentos e em como damos muita importância a situações e fatos que, a rigor, são irrelevantes.
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Respostas de 14
Amei sua lista de livros para refletir! Difícil é escolher qual ler primeiro. Obrigada por compartilhar
Que bom que gostou!
Adorei essa lista, deles só tinha lido o 1822 e o Manual Antirracismo está na minha lista para ler urgente. Ler e podcasts tem sido uma ótima maneira de driblar essa pandemia, valeu pelas dicas.
Beijos
Sou mais dos livros que dos podcasts, mas realmente são essas coisas que têm ajudado a gente…
Eu amo ler… sempre li muito, desde criança. Esse ano tenho lido pouco por conta do trabalho e estudos e ando sentindo falta. De sua lista sugerida, não li nenhum, mas já assisti palestras da Monja. Conta? rsrsrs bjs
Também amo ler desde criança, e já tive meus períodos de ler muito e ler quase nada… fica a lista de sugestões do post para quando vc conseguir retomar a leitura!
Amei a lista! Tô doida pra ler esse livro da Monja Coen, sou fã. Eu tbm gosto mais de livros de romance, mas é sempre bom uma leitura que nos faz refletir
Também prefiro romances, mas de vez em quando gosto de variar!
Amo viajar sem sair de casa e não tem companhia melhor pata isso que um bom livro. Já conhecia alguns desses e os outros acabaram de entrar para minha lista. Adorei!
Que bom que gostou! Sempre gosto das suas dicas também!
Faz tempo que não leio um livro para refletir, a maioria é ficção e fantasia rs… ótima lista
Também prefiro ficção, mas é bom variar de vez em quando, não é mesmo?
Adorei essa seleção de livros para refletir! Vou aproveitar para ler nas férias.
Ótima ideia!