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Para viajar sem sair de casa: Livros para refletir

Conteúdo atualizado em 8 de janeiro de 2024

Sou uma leitora que gosta de diferentes estilos, mas confesso que sempre acabo escolhendo romances – adoro uma história bem contada, seja real ou fictícia, e por isso biografias normalmente também me prendem. Mas quando o assunto é não-ficção fico bem ressabiada, e são poucos os livros que me prendem a atenção e valem a recomendação. Normalmente os que me “pegam” são aqueles que me fazem refletir sobre algum assunto ou aspecto da vida, me tocam o coração ou enfocam em determinados momentos históricos.

Novamente explorando a possibilidade de viajar sem sair de casa através da leitura, segue uma lista de livros de não-ficção sobre diferentes assuntos que li e recomendo.

CRER OU NÃO CRER (Pe. Fábio de Melo e Leandro Karnal)

O assunto aqui é fé: são muitas as questões interessantes debatidas em Crer ou Não Crer, escrito em formato de diálogo entre o padre católico-celebridade Fábio de Melo e o professor, historiador, autor de diversos livros, ex-seminarista e ateu assumido, Leandro Karnal. Eu fui criada católica e estudei em colégios religiosos até ir para a universidade, por isso tenho algum conhecimento sobre o cristianismo. Mas há muitos anos não sigo nenhuma religião e tendo para o ateísmo, e fiquei bastante curiosa para ler esse livro: em tempos tão controversos no Brasil, onde religião virou bandeira ideológica e política, como seria essa conversa?

O clima do debate é muito respeitoso e, embora divirjam em vários pontos (como era de se esperar), eles concordam em muitos outros – o que prova que a essência humana transcende qualquer credo. Vale ressaltar alguns pontos que me chamaram muito a atenção, pontos em que os dois concordam e que todos nós deveríamos concordar também: seguir uma religião não é garantia de caráter ou ética; a busca pessoal pelo autodesenvolvimento independe de se ter fé ou não em algo superior; fé e ciência não são antagonistas. Cada capítulo envolve uma dessas questões, e ao final há um glossário de termos e nomes mencionados nas discussões.

A SABEDORIA DA TRANSFORMAÇÃO (Monja Cohen)

Não escondo que comprei A Sabedoria da Transformação na tentativa de me tornar uma pessoa melhor, mais centrada e equilibrada – afinal, quem melhor que uma monja budista para ajudar, certo? Não sei se fez efeito, mas foi no mínimo uma leitura interessante. Nesse livro, a famosa Monja Cohen mistura exemplos reais (inclusive alguns episódios da própria vida) para exemplificar a busca pela paz interior e, consequentemente, pela famigerada felicidade.

Ao contrário do que possa parecer, é uma leitura leve e revigorante e serve para todas as pessoas, independente de religião. Um estímulo para repensar atitudes e, porque não, transformar a própria vida.

LONGE DA ÁRVORE (Andrew Solomon)

De longe esse foi um dos livros mais inquietantes que já li na vida. Baseado nas suas próprias experiências com a dislexia na infância e a homossexualidade na vida adulta, Andrew Solomon fez uma pesquisa extensa sobre a diversidade dentro das famílias para escrever Longe da Árvore. Cada capítulo é dedicado a uma “excepcionalidade”: desde condições inatas, como nanismo, autismo, surdez, esquizofrenia, transgeneridade, até outras circunstanciais, como filhos resultados de estupro e delinquentes. Ele entrevistou centenas de pessoas e foi capaz de criar panoramas imparciais, mostrando o lado A e o lado B de cada situação e o impacto delas dentro das famílias. Como mãe de duas crianças absolutamente comuns, fiquei chocada com algumas dessas situações tão distantes da minha realidade – por outro lado, pude entender muitos dos sentimentos dos pais e mães entrevistados no livro. Há que se levar em conta que a realidade brasileira é bem distinta da americana em termos de suporte, pesquisas e associações familiares em torno de determinadas condições, mas famílias são famílias em qualquer lugar.

Sei que o livro virou filme mas não assisti, então não sei se causa o mesmo impacto que o livro. Recomendo muito para quem quer entender mais sobre diversidade e sobre a condição humana em geral – faz pensar e muito!

GRITO DE GUERRA DA MÃE TIGRE (Amy Chua)

Amy Chua, uma descendente de chineses residente nos EUA decide criar suas filhas à maneira oriental e compartilha sua “metodologia” – em resumo, essa é a história de Grito de Guerra da Mãe-Tigre. O jeito que nós, ocidentais, encaramos a infância e a criação dos filhos é muito diferente dos orientais, por isso várias atitudes dessa mãe acabam nos chocando pela inflexibilidade.

A educação vista como treinamento para a excelência, a falta de diálogo, o estabelecimento de metas… o livro me despertou sentimentos ambíguos e muitas perguntas: nosso desejo como mães/pais é sempre desenvolver ao máximo o potencial dos filhos, mas a que preço? Não queremos também ter um relacionamento de amor e acolhimento com nossos filhos? Será que é possível ter os dois? A conclusão é que é difícil separar a educação da cultura na qual estamos inseridos e que, embora as mães ao redor do mundo pareçam muito diferentes na metodologia, somos iguais no desejo de preparar nossos filhos para o mundo da melhor maneira possível. Uma reflexão válida para todos, sejam mães/pais ou somente filhos.

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU? (Ilan Brenman e Luiz Felipe Pondé)

Mais um livro que debate educação e infância, também escrito no formato de diálogo. Em Quem tem medo do Lobo Mau? o psicólogo e renomado autor de livros infantis Ilan Brenman e o filósofo Luiz Felipe Pondé conversam sobre os impactos do politicamente correto na educação das crianças e nos adultos que se tornarão. Os filtros que têm sido impostos aos contos de fadas, por exemplo, acabam por impedir as crianças de lidarem com sentimentos normais e perfeitamente humanos (embora não bonitos) como medo, raiva, inveja, ciúmes – eles defendem que a simbologia é importantíssima na infância e ajuda na formação de adultos mais seguros e inteligentes emocionalmente.

Não concordo 100% com eles em tudo, mas por isso mesmo é um bom livro, pois nos leva a refletir sobre liberdade de expressão, inteligência emocional e valorização da infância.

CUIDE DOS PAIS ANTES QUE SEJA TARDE (Fabrício Carpinejar)

Nesses tempos tristes em que tantos perderam pais, mães, irmãos, amigos, Cuide dos Pais Antes que Seja Tarde é um livro para repensar as relações e valorizar o hoje com aqueles a quem amamos. Baseado nas suas próprias experiências, o poeta e escritor Fabricio Carpinejar defende que não devemos perder um minuto do afeto e da convivência com a família por orgulho. O tempo passa rápido e as pessoas, em especial nossos pais, não são eternos – por isso é importante abrir espaço na nossa vida para eles. Para ler devagarinho, pensando e ponderando – e derramando algumas lágrimas.

1822 (Laurentino Gomes)

Para refletir sobre as origens do Brasil, 1822 é um livro de História bem diferente daqueles livros didáticos que estudamos no ensino fundamental. Esqueça o “brado retumbante” de D.Pedro I e se atente ao subtítulo: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado.

O historiador Laurentino Gomes detalha as circunstâncias que levaram à independência do Brasil e nos apresenta uma série de novos personagens, fundamentais para aquele momento mas que pouco (ou nunca) ouvimos falar. Ele também nos apresenta um D. Pedro bem diferente – e muito mais humano – do que aquele lendário personagem mulherengo e valente, imortalizado em séries e filmes. Lembrando que a independência moldou muito da nossa identidade como brasileiros, e lendo algumas passagens conseguimos entender melhor muitos dos aspectos culturais que carregamos até hoje (alguns não muito bons, diga-se). Leitura recomendadíssima para quem quer entender melhor os mecanismos que regem o Brasil até hoje.

PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA (Djamila Ribeiro)

Sou muito fã da filósofa e ativista Djamila Ribeiro, e adoro ouvi-la falar – sempre clara e contundente, ela sabe tocar em pontos doloridos mas necessários para que melhoremos como sociedade. Pequeno Manual Antirracista é mesmo pequenininho, dividido em 11 capítulos, aborda diversos temas que nos mostram como o racismo está entranhado na nossa sociedade e permeia comportamentos e políticas públicas. É uma leitura fundamental para quem quer se aprofundar no assunto e repensar as próprias atitudes – no final a gente fica se perguntando: será possível reverter esse sistema de opressão tão antigo quanto o próprio Brasil? Gosto de pensar que sim, e que é preciso ajuda de pessoas como Djamila para nos abrir os olhos.

ENQUANTO EU RESPIRAR (Ana Michelle Soares)

Enquanto eu respirar é um livro que faz repensar a vida e a morte, de uma maneira muito pessoal e realista. A autora Ana Michelle Soares é uma jovem que se vê, aos 32 anos, diante do diagnóstico de um câncer de mama reincidente, e que já havia se espalhado por outros órgãos. Não havia mais possibilidade de cura total, e o foco do seu tratamento passa a ser o controle da doença, de forma a proporcionar a vida mais confortável que ela possa ter até o fim – os chamados cuidados paliativos.

A cada capítulo, ela conta um pouco como lidou com os diferentes tratamentos, as amizades que surgiram da página @paliativas, que ela criou no Instagram para contar sua história, seus sentimentos, sua jornada de autoconhecimento e a firme intenção de aproveitar ao máximo sua vida, dia a dia. Uma história para repensar a finitude da vida, especialmente diante das adversidades.

A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE (Matt Haig)

Diferente dos demais dessa lista, A Biblioteca da Meia-Noite é uma obra de ficção que virou best-seller mundial por conta da pergunta instigante que deixa na cabeça do leitor: o que faríamos de diferente na nossa vida se pudéssemos voltar atrás? Que rumos a vida teria tomado se tivéssemos feito escolhas diferentes? No livro, a protagonista cheia de arrependimentos tenta o suicídio e é nesse momento entre a vida e morte que ela se vê frente às infinitas possibilidades do que sua vida poderia ter sido.

Um pouco deprimente no início, mas o livro engrena e surpreende, conforme acompanhamos a personagem e suas possíveis vidas. Faz pensar nos nossos próprios arrependimentos e em como damos muita importância a situações e fatos que, a rigor, são irrelevantes.

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Somos uma família de 4: eu, Cíntia, engenheira de formação mas que sempre gostei de escrever e viajar; marido, que me acompanha nas viagens desde 2009; e nossos dois malinhas, Letícia e Felipe, atualmente com 14 e 11 anos, que carregamos por todos os lugares desde que ainda estavam na minha barriga.

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Respostas de 14

  1. Adorei essa lista, deles só tinha lido o 1822 e o Manual Antirracismo está na minha lista para ler urgente. Ler e podcasts tem sido uma ótima maneira de driblar essa pandemia, valeu pelas dicas.
    Beijos

  2. Eu amo ler… sempre li muito, desde criança. Esse ano tenho lido pouco por conta do trabalho e estudos e ando sentindo falta. De sua lista sugerida, não li nenhum, mas já assisti palestras da Monja. Conta? rsrsrs bjs

    1. Também amo ler desde criança, e já tive meus períodos de ler muito e ler quase nada… fica a lista de sugestões do post para quando vc conseguir retomar a leitura!

  3. Amei a lista! Tô doida pra ler esse livro da Monja Coen, sou fã. Eu tbm gosto mais de livros de romance, mas é sempre bom uma leitura que nos faz refletir

  4. Amo viajar sem sair de casa e não tem companhia melhor pata isso que um bom livro. Já conhecia alguns desses e os outros acabaram de entrar para minha lista. Adorei!

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